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Mostrando postagens de setembro, 2021

Dentro da porta de vidro (2), de Natsume Sōseki

Meu telefone tocou e ao colocá-lo no ouvido e perguntar por quem chamava, era um homem de uma revista pedindo para tirar uma fotografia minha, perguntando quando poderia vir me fotografar. — Prefiro não ter minha foto tirada — respondi-lhe. Eu não tinha qualquer relação com aquela revista. Tinha a memória, porém, de ter pegado em mãos um ou dois exemplares dela nos últimos 3 ou 4 anos. Só me lembro de que ela tinha a peculiaridade de publicar muitas fotografias de pessoas sorrindo. No entanto, a impressão desagradável que tive de muitos daqueles rostos sorridentes, forçados e pouco naturais, não desaparecera. Por isso, tentei recusar o pedido. O homem da revista me explicou que desejava publicar rostos de pessoas nascidas no ano do Coelho, visto que seria a edição de Ano Novo do Coelho. De fato, como dizia ele, nasci no ano do tal signo. Então eu disse assim: — Tudo bem se eu não sorrir nessa fotografia para sua revista? — É claro, não faz necessidade alguma — respondeu imediat

Os Últimos Anos de Ueda Akinari, de Okamoto Kanoko

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Era primavera do 3º ano da era Bunka (1806). Ueda Akinari, um senhor idoso de 73 anos que se tornara completamente sozinho, construíra um barraco improvisado no antigo eremitério do templo Nanzen-ji de Kyoto, onde escolhera passar o resto de sua velhice. Talvez não houvesse alguém tão absolutamente solitário como ele. Desde que perdera sua esposa Korenni 7 anos antes, que esteve consigo por 38 anos, não lhe restara nenhum parente ou relação. Tinha alguns poucos amigos e discípulos, mas apesar de socializarem-se e tratarem-se com respeito, não os deixava se aproximarem demais. Além do mais, ninguém mais vinha recentemente. Mesmo que viessem alguns de zombaria, para se deliciarem com esse velho irônico e teimoso, a maioria decidia que fazer esse tipo de brincadeira com um senil já beirando a cegueira seria trabalhoso demais, ou demasiada crueldade. O próprio Akinari já aceitara que passou da idade, percebendo-se o seu abandono. No ano anterior à sua morte no 5º ano da era Bunka, escreveu

Desvario de um dia de outono, de Nakahara Chūya

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Já não me resta mais nada Tenho mãos e punhos vazios Coisa da qual não me lamento Finalmente livre das amarras No entanto hoje faz bom tempo E aviões têm voado agora há pouco ... Vai ter guerra na Europa, ou não? Quem vai saber uma coisa dessas? Realmente hoje faz bom tempo E o azul do céu se molha de lágrimas Os álamos fazem frá-frá-frá-frá-frá E as crianças já subiram ao céu Já ninguém se banha na terra ao sol além da esposa mensalista e o sapateiro, e do sapateiro o som do martelinho glorifica sozinho as ruínas iluminadas Ah, alguém me ajude! talvez cantassem os passarinhos no tempo de Dionísio. Hoje nem o pardal canta, mesmo sua sombra sobre a terra é pálida demais. ... E onde foi aquela moça da minha terra? Vai borrar-se a flor emoldurada? Vai brilhar o sol sobre a grama? Sonha-se ainda em subir ao céu? O que estou dizendo? Me ilude alguma confusão? Para onde voaram as borboletas? É hoje outono, e não primavera? Então... bebamos o xarope viscoso Be

O Homem que Foi Escavado do Chão, de Ueda Akinari

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Havia uma família de lavradores que vivia há muitas gerações em um lugar chamado Kosobe em Takatsuki, na província de Yamashiro. Eles possuíam muitos campos nas montanhas e eram muito ricos. O chefe de família era um homem culto, que nunca saía com seus amigos, em vez disso passava suas noites lendo sob a luz do fogo em seu escritório. — Agora, vá para a cama. O sino da meia-noite já tocou. Meu pai costumava me dizer que se eu ficasse acordada até muito tarde lendo, minha mente ficaria cansada e eu adoeceria. Você tem que ter cuidado para não ultrapassar seus limites no caminho que você ama. — Advertiu-lhe sua mãe, cujas palavras ouviu com gratidão e começou a ir para a cama quando passava das dez da noite. Numa noite tranquila e chuvosa, estava absorto em sua leitura, contra a vontade de sua mãe, quando bateu a meia-noite. A chuva parou e não havia vento. A lua saiu, iluminando de leve sua janela, inspirando-o a escrever um poema ou uma canção. A lua estava lá fora e a janela

Dentro da porta de vidro (1), de Natsume Sōseki

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Olhando o lado de fora pelo lado de dentro da porta de vidro, imediatamente chamam à atenção a bananeira que protege da geada, os galhos de umemodoki com frutos vermelhos e os postes elétricos presunçosamente eretos. Mas fora isso, não há muito mais em minha vista que valha a pena contar.  O meu campo de visão de dentro do escritório é extremamente monótono, e extremamente estreito. Umemodoki ( Ilex serrata ); favorita em jardins de estilo japonês. Créditos de  庭木図鑑 植木ペディア . Além disso, desde o fim do ano passado eu peguei um resfriado e não tenho saído muito fora, como fico sentado todos os dias aqui dentro dessa porta de vidro, não tenho a menor ideia do que acontece no mundo. Indisposto, também não leio muito. Apenas fico sentado, durmo, e assim passa-se um dia após o outro. Entretanto, às vezes minha cabeça se põe em movimento. Muda-se um pouco também minha disposição. Não importa quão estreito seja o mundo, mesmo neste acontecem coisas a seu modo estreitas. Dessa forma, às ve

Piano, de Akutagawa Ryūnosuke

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Em um dia chuvoso de outono, eu andava por Yamate, em Yokohama, para ir visitar uma certa pessoa. As ruínas não haviam mudado muito desde o terremoto. Só para não dizer que não mudou nada, noto como começaram a crescer akaza em meio aos telhados de ardósia e paredes de tijolos empilhados que recobriam o chão. Na verdade, havia até mesmo um piano arqueado com o tampo aberto nas ruínas de uma casa, meio esmagado pela parede, com o seu teclado reluzindo de encharcado pela chuva. Não só isso, mas até mesmo os vários livros de partituras em meio às akaza levemente avermelhadas, tinham as suas capas em letras ocidentais rosas, azuis e amarelas encharcadas pela chuva. Eu tinha um assunto complicado a tratar com aquela pessoa que fora visitar. A conversa não acabou com facilidade. Já era tarde da noite quando eu consegui deixar a sua casa. E isso foi com a promessa de que voltaria em breve para conversarmos novamente. Felizmente, havia parado de chover. Ainda mais, a lua às vezes brilhava a

(Em uma noite de outono) & Circo, de Nakahara Chūya

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Em uma noite de outono Acordei de um sonho que me destroçou. Nas costas da humanidade, já se juntam as nuvens negras Mas a maioria das pessoas ainda não as perceberam Se perceberam, talvez não houvessem nada o que fazer, mas quem as percebeu já devem estar mais doentes. Decadência, simbolismo, cubismo, futurismo, Expressionismo, dadaísmo, surrealismo, colaborações... O mundo geme, hesita, murcha, e tem a cor de bife. Porém, agora penso que são mesmo os loucos que conhecem a realidade. A sanidade é um gongo novíssimo, Uma noite de outono realmente solitária. Original:「〔一九三〇年-一九三二年〕(秋の夜に)」中原中也より ( http://www.junkwork.net/txt/mikanshihen/1930-1932/23.AutumnalNight ) Créditos de Masato's Watercolor . Circo Em um tempo passado                 Houve uma guerra parda Em um tempo passado                 O vento gélido cortava Em um tempo passado                 Aqui e agora um brinde                                Aqui e agora um brinde O mastro do circo é alt

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