Desvario de um dia de outono, de Nakahara Chūya
Já não me resta mais nada
Tenho mãos e punhos vazios
Coisa da qual não me lamento
Finalmente livre das amarras
No entanto hoje faz bom tempo
E aviões têm voado agora há pouco
... Vai ter guerra na Europa, ou não?
Quem vai saber uma coisa dessas?
Realmente hoje faz bom tempo
E o azul do céu se molha de lágrimas
Os álamos fazem frá-frá-frá-frá-frá
E as crianças já subiram ao céu
Já ninguém se banha na terra ao sol
além da esposa mensalista e o sapateiro,
e do sapateiro o som do martelinho
glorifica sozinho as ruínas iluminadas
Ah, alguém me ajude!
talvez cantassem os passarinhos no tempo de Dionísio.
Hoje nem o pardal canta,
mesmo sua sombra sobre a terra é pálida demais.
... E onde foi aquela moça da minha terra?
Vai borrar-se a flor emoldurada?
Vai brilhar o sol sobre a grama?
Sonha-se ainda em subir ao céu?
O que estou dizendo?
Me ilude alguma confusão?
Para onde voaram as borboletas?
É hoje outono, e não primavera?
Então... bebamos o xarope viscoso
Bebamos de canudo frio e grosso
Beba sem medo o caldo pegajoso
Não, não busque nada!...
Katsushika Hokusai – Sansuikachou Asagaoni-Suzume |
Original:「秋日狂乱」中原中也より
(http://nakahara.air-nifty.com/blog/2012/03/post-1ca9.html)
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